Ler significa reler, compreender e interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é coautor.
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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Causa e consequência 2

Mais uma atividade para fixação de conjunções causais e consecutivas.  Ocorre, porém, que tais relações também podem ocorrer mesmo que os conectivos não estejam presentes. Uma leitura atenta e interpretativa, que convirja para a apreensão dos sentidos, possibilita-nos identificá-las, o que contribui para uma compreensão mais apurada do discurso, estabelecendo-se as necessárias relações entre as partes do texto para captar a sua mensagem global. 

TEXTO
O filme 
O Contador de Histórias, filme de Luiz Villaça baseado na vida do mineiro Ro­berto Carlos Ramos, é a história de como o afeto pode transformar a realidade. Caçula entre dez irmãos, Roberto desde cedo demonstra um talento especial para contar his­tórias, transformando, com a narrativa, suas próprias experiências de frustração em fábulas cativantes. Aos 6 anos, o menino cheio de imaginação é deixado pela mãe em uma entidade assistencial recém-criada pelo governo. Ela acredita estar, assim, garan­tindo um futuro melhor para seu filho. A realidade na instituição é diferente do que se promovia pela propaganda na TV e Roberto, aos poucos, perde a esperança. Aos treze anos, após incontáveis fugas, ele é classificado como irrecuperável, nas palavras da diretora da entidade. Contudo, para a pedagoga francesa Margherit Duvas (Maria de Medeiros), que vem ao Brasil para o desenvolvimento de uma pesquisa, Roberto representa um desafio. Determinada a fazer do menino o objeto de seu estudo, tenta se aproximar dele. O garoto em princípio reluta, mas, depois de uma experiência trau­mática, procura abrigo na casa de Margherit. O que surge entre os dois é uma relação de amizade e ternura, que porá em xeque a descrença de Roberto em seu futuro e desafiará Margherit a manter suas convicções. 
Disponível em: http://www.robertocarloscontahistoria.com/olhada.asp. Acesso em: 21 mar. 2013.

 
CAUSA
(       )Caçula entre dez irmãos, Roberto desde cedo demonstra um talento especial para contar histórias.
(       )Aos treze anos, após incontáveis fugas.
(       )Margherit Duvas quer fazer do meni­no o objeto de seu estudo.
(       )Aos 6 anos, o menino cheio de ima­ginação é deixado pela mãe em uma entidade assistencial recém- criada pelo governo.

CONSEQUÊNCIA
(       )Roberto, aos poucos, perde a esperança.
(       )Ele é classificado como irrecuperável, nas palavras da diretora da entidade
(       )Ele é classificado como irrecuperável, nas palavras da diretora da entidade
(       )Transforma, com a narrativa, suas pró­prias experiências de frustração em fábu­las cativantes.

Causa e consequência

ATIVIDADE 1 

Una as informações 1 e 2, presentes nos quadros a seguir, estabelecendo entre elas relação de CAUSA E CONSEQUÊNCIA por meio das conjunções e locuções conjuntivas pedidas. 

a. Principais conjunções e locuções conjuntivas causais: porque – como – vis­to que – uma vez que – já que. 

1. O ser humano continua a amar. 
2. O ser humano acredita na sinceridade do amor.  
  
1. Algumas pessoas fazem escolhas das quais se arrependem mais tarde. 
2. Algumas pessoas não sabem diferenciar o certo do errado.  
  
1. Crianças e adolescentes precisam investir em seus estudos. 
2. O mundo globalizado exige profissionais cada vez mais capacitados.  

b. Principais conjunções e locuções conjuntivas consecutivas: que (reforçado por tão, tanto, tal) – de sorte que – de modo (ou maneira) que – de forma que.

1. A amizade é um sentimento importante para o ser humano.
2. Ninguém consegue viver completamente feliz sem amigos.  
  
1. Choveu no mês de março.
2. Houve muitos deslizamentos.  
  
1. A chamada geração digital é fascinada pela tecnologia da computação.
2. A chamada geração digital passa horas em frente ao computador.  

Complete os esquemas com a CAUSA e a CONSEQUÊNCIA presentes nos textos a seguir abaixo:
a. “Não quero ser pessimista, mas, como ficamos buscando soluções mágicas para situações pontuais, a obesidade segue aumentando e a lei de Darwin, que seleciona os mais aptos ao meio ambiente, vai fazendo o seu trabalho.” 
CAUSA: 
CONSEQUÊNCIA: 
b. “Como querem vender a revista, os senhores estão fazendo apologia à pre­guiça, e sendo profundamente irresponsáveis quanto à educação em saúde do cidadão. Estão vendendo doença.” 
CAUSA: 
CONSEQUÊNCIA: 
c. Como foi dado início às obras do programa Porto Maravilha, que visam à recuperação da zona portuária do Rio de Janeiro, aumentou o reforço no esquema especial de tráfego na região. 
CAUSA: 
CONSEQUÊNCIA: 
d. Visto que um acidente retirou os sinais da esquina das ruas Barão da Torre e Henrique Dumont, em Ipanema, a qual já faltava sinalização horizontal nas vias e um agente de trânsito, houve aumento das colisões no local. 
CAUSA: 
CONSEQUÊNCIA: 
e. Hoje um time de fubebol é um negócio tão rentável que não pode ser con­fundido com um clube social recreativo. 
CAUSA: 
CONSEQUÊNCIA: 

E agora? Já se sente preparado(a) para reconhecer relações de causa e consequência em um texto? Consegue idetificar as conjunções no contexto em que elas aparecem, apreendendo seu sentido? As duas questões objetivas a seguir são um bom recurso para você testar o que aprendeu.

QUESTÃO 1
Leia o texto a seguir:
O valor das férias para a formação cultural dos alunos
Há quem defenda que as férias – “certo número de dias consecutivos desti­nados ao descanso”, como define o dicionário Aurélio – não têm nenhum impacto na aprendizagem. É um equívoco. O tempo dedicado ao ócio, como indicam muitos estu­dos, é parte integrante do que se entende, hoje em dia, por Educação. Como explica o pesquisador espanhol Javier Melgarejo Draper, um sistema educativo é composto de três subsistemas. Dois são bem conhecidos: o escolar e o familiar. O terceiro deles, o  sociocultural, é mais difuso. Compõe-se dos recursos culturais que podem ter alguma finalidade na formação individual: bibliotecas, cinemas, museus, corais, centros espor­tivos, teatros, televisão, associações e grupos de amigos. 
[...] Entretanto, em países marcados pela desigualdade, a cultura tende a ser considerada um artigo de luxo. No Brasil, uma pesquisa da consultoria J. Leiva Cultura & Esporte, realizada na capital paulista em parceria com o Datafolha e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), indica que 40% dos entrevistados não costumam ir ao cinema, 60% não vão a teatros e 61% não frequentam museus. Nos Estados Unidos, onde a diferença entre ricos e pobres tem aumentado nas últimas décadas, começa a ganhar corpo uma tese polêmica: como os alunos pobres não têm possibilidade de aprender muito duran­te as férias, que tal reduzi-las – ou mesmo eliminá-las? 
MARTINS, Ana Rita; RATIER, Rodrigo. Nova Escola, dezembro de 2010. Fragmento. 
No Texto 1, em “como os alunos pobres não têm possibilidade de aprender muito durante as férias...”, a conjunção destacada expressa ideia de 
a. causa. 
b. comparação. 
c. conformidade. 
d. condição. 

QUESTÃO 2 
Leia o texto a seguir: 
Guará 
Somos muito ligados aos assuntos da natureza e temos como passatempo sair pelos lugares em que ainda se pode ver e fotografar pássaros, flores, paisagens etc. Depois de alguns passeios e fotos, resolvemos fazer um pequeno blog onde podemos expor aos amigos um pouco de nossas experiências naturais. Para a abertura, esco­lhemos aquele que mais nos chamou a atenção pela beleza: o guará. Compartilhamos momentos tão únicos quanto a bela reportagem da revista (“Avermelhou o mangue­zal”, edição nº 80). Deixamos aqui nosso endereço e o link caso queiram compartilhar estas experiências: www.foconanatureza.com. Nossa proposta é mostrar que existem roteiros tão bons fora dos centros urbanos e dedicados totalmente à natureza que vale a pena uma viagem. 
RODRIGUES, Públio; BOTACINI, Silvia M. Terra da gente, fevereiro de 2011. Fragmento. (P091001RJ _SUP)
Nesse texto, a conjunção destacada em “existem roteiros tão bons fora dos centros urbanos e dedicados totalmente à natureza que vale a pena fazer uma viagem” expressa ideia de:
a. causa.
b. consequência.
c. explicação.
d. tempo.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Simulados  para SAERJ, SAERJINHO Saeb/Prova Brasil - LÍNGUA PORTUGUESA

Neste post socializarei os simulados de Língua Portuguesa priorizando os descritores apresentados pelo MEC e CAED(ufjf). Os conteúdos e as questões são semelhantes as que caem nas provas do SAERJ, SAERJINHO e Saeb/Prova Brasil.

LÍNGUA PORTUGUESA

 1º SIMULADO PROVA BRASIL

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Marília de Dirceu"

O vídeo nos apresenta a musa inspiradora do poeta-inconfidente Tomás Antônio Gonzaga. Esse poeta escreveu uma das mais importantes obras literárias do Arcadismo:  "Marília de Dirceu".

Obs.: Exibi o filme "Os Inconfidentes" para os meus alunos, da 1ª série -EM, o que auxiliou no entendimento do momento histórico no Brasil ( a Inconfidência Mineira -1789)

Arcadismo





A letra da canção Vilarejo, da cantora Marisa Monte, reforça a ideia de que a Natureza, o locus amenus, expressa o verdadeiro equilíbrio.  No videoclipe da música são exploradas imagens de grandes cidades, reforçando o ideal do fugere urbem(fuga da cidade) do Arcadismo.

Poesia no Arcadismo - 1ª série EM

 Para entrarmos no clima do Arcadismo a primeira sugestão é um vídeo da israelense Ilana Yahav, O sonho de um homem. Por meio da técnica sandart (arte na areia), a narrativa criada pela artista se relaciona com a característica fugere urbem do Arcadismo, uma vez que o personagem sonha fugir da metrópole para sentir de perto a natureza.

Cordel


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Carta Pessoal

Escrevemos uma carta pessoal quando queremos nos comunicar com alguém próximo de nós, como amigos ou familiares.
As características desse tipo de gênero textual são simples, ou seja, não possuem muitas regras e estrutura para serem seguidas. Vejamos:
• O assunto é livre, geralmente de ordem íntima, sentimental.
• O tamanho varia entre médio e grande. Quando é pequeno, é considerado bilhete e não carta.
• O tipo de linguagem acompanhará o grau de intimidade entre remetente e destinatário. Portanto, cabe ao escritor saber se pode usar termos coloquiais ou mesmo gírias.
• Quanto à estrutura, a carta pessoal deve seguir a sequência: 1. local e data escritos à esquerda, 2. vocativo, 3. corpo do texto e 4. despedida e assinatura.

Como o grau de intimidade é variável, o vocativo, por consequência, também: Minha querida, Amado meu, Querido Amigo Fulano, Fulaninho, Caro Senhor, Estimado cliente, etc. A pontuação após o vocativo pode ser vírgula ou dois-pontos.

Assim também é em relação à despedida, a qual pode variar entre Atenciosamente, Cordialmente, etc. até Adeus, Saudades, Até em breve, etc.

Quanto à assinatura, pode ser desde só o primeiro nome até o apelido, dependendo da situação.
Caso se esqueça de dizer algo importante e já tenha finalizado a carta é só acrescentar a abreviação latina P.S (post scriptum) ou Obs. (observação).
A carta pessoal geralmente é entregue em mãos ou enviada pelo correio, pois é manuscrita!

Curiosidade sobre P.S: essa sigla é originada do verbo latino “post scribere” que significa “escrever depois”!
Carta do leitor

Texto com intencionalidade persuasiva, com formato semelhante ao da carta pessoal, apresentando geralmente data, vocativo, corpo do texto, expressão cordial de despedida, assinatura, cidade de origem.
Nesse gênero textual um leitor expressa opiniões (favoráveis ou não) a respeito de assunto publicado em revistas, jornais, ou a respeito do tratamento dado ao assunto. Nesse gênero textual, o autor pode também esclarecer ou acrescentar informações ao que foi publicado. Apesar de ter um  destinatário específico – o diretor da revista ou o jornalista que escreveu determinado artigo –, a carta do leitor pode ser publicada e lida por todos os leitores do meio de comunicação para o qual  ela foi enviada.
Na carta do leitor, a linguagem pode ser mais pessoal (empregando pronomes e verbos em 1ª pessoa) ou mais impessoal (empregando pronomes e verbos na 3ª pessoa) ou ainda pode utilizar os dois tipos de linguagem; a menor ou maior impessoalidade depende da intenção do autor: protestar, brincar ou impressionar.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O IFF (veja as modalidades aqui), em parceria com a Secretaria de Educação do estado do Rio de Janeiro, possibilita ingresso diferenciado para alunos do ensino médio da rede pública aos cursos técnicos do Pronatec.
Estão abertas as inscrições para os alunos matriculados na 2ª ou 3ª séries do Ensino Médio da Rede Estadual.
Os alunos poderão se inscrever gratuitamente até o dia 30/06/2013 pelo site http://aplicacoes.educacao.rj.gov.br/pronatec/inscricao

domingo, 16 de junho de 2013

Atividade para a 3ª série EM

Tema: Maioridade Penal

As discussões em torno da legitimidade da redução ou não da maioridade penal no Brasil sempre estão em
voga. No entanto, nunca houve um consenso acerca da questão. Afinal, será que reduzir a maioridade penal irá reduzir os índices de violência praticada por “menores infratores”? Será que enviá-los para penitenciárias mais cedo irá mudar essa realidade? O que sabemos de fato é que presídios estão cada vez mais cheios e não conseguem mudar a realidade de infratores. Mas se algo não for feito para mudar esses índices cada vez mais alarmantes de violência praticada por crianças e adolescentes, a situação só irá piorar. Qual serão então as melhores soluções?

A proposta é que você defenda um posicionamento claro e bem fundamentado acerca Redução ou não da Maioridade Penal no Brasil. Leve em consideração os textos apresentados na coletânea abaixo para nortear suas ideias, mobilize argumentos bem fundamentados que levem seu texto a ir além do senso comum e realizar uma crítica análise da problemática imposta.

Elabore sua redação considerando as ideias a seguir:

"A legislação brasileira sobre a maioridade penal entende que o menor deve receber tratamento diferenciado daquele aplicado ao adulto. Estabelece que o menor de 18 anos não possui desenvolvimento mental completo para compreender o caráter ilícito de seus atos. Adota o sistema biológico, em que é considerada somente a idade do jovem, independentemente de sua capacidade psíquica. Em países como Estados Unidos e Inglaterra não existe idade mínima para a aplicação de penas. Nesses países são levadas em conta a índole do criminoso, tenha a idade que tiver, e sua consciência a respeito da gravidade do ato que cometeu. Em Portugal e na Argentina, o jovem atinge a maioridade penal aos 16 anos. Na Alemanha, a idade-limite é 14 anos e na Índia, 7 anos." [Leia na íntegra - Veja]

"Pesquisa do Instituto DataSenado publicada em outubro apontou que 89% dos 1.232 cidadãos entrevistados querem imputar crimes aos adolescentes que os cometerem. De acordo com a enquete, 35% fixaram 16 anos como idade mínima para que uma pessoa possa ter a mesma condenação de um adulto; 18% apontaram 14 anos e 16% responderam 12 anos. Houve ainda 20% que disseram "qualquer idade", defendendo que qualquer pessoa, independente da sua idade, deve ser julgada e, se for o caso, condenada como um adulto. (...). - Manter em 18 anos o limite para a condição de imputabilidade é ignorar o desenvolvimento mental dos nossos jovens. A redução da maioridade, por si só, não resolveria os nossos graves problemas de segurança pública. Entretanto, seria uma boa contribuição, pois os jovens, em função da impunidade, sentem-se incentivados à prática do crime - disse Cassol, no Plenário, ao apresentar a proposta.[Leia na íntegra - Brasil 247]

"O sensacionalismo seduz, mas não responde à lógica: o fato de os adultos já serem processados criminalmente não tem evitado que pratiquem crimes. Por que isso aconteceria com os adolescentes? A ideia de que a criminalidade está vinculada a uma espécie de “sensação da impunidade” jamais se demonstrou, tanto mais que a prática de crimes tem crescido junto com a encarcerização. A tese oculta uma importante variável: o fator altamente criminógeno do ambiente prisional, que é ainda maior quando se trata de jovens em crescimento." [Leia na íntegra - Blog do Miro]

Proposta 1: Dissertação
Neste gênero textual, você possui a oportunidade de defender um posicionamento e tentar persuadir seu interlocutor de sua posição. Para isso, mobilize fatos, dados, exemplos, analise e reflita em torno da problemática do tema.
Veja como fazer um boa dissertação e conheça também as características deste gênero textual.

"Não sabe como começar seu texto? Então confira algumas dicas aqui,e aqui .
Atividade para o 9º ano
A crônica que você vai ler, de Fernando Sabino, foi retirada de uma coletânea do autor. Como você já viu, crônicas são textos curtos que tratam de fatos cotidianos, escritos em linguagem leve e descontraída.

O homem nu
         Ao acordar, disse para a mulher:
        — Escuta, minha fi lha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
         — Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
     — Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
        Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
      Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
        — Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
        Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
      Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!
       Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
        — Maria, por favor! Sou eu!
          Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
          Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
          — Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
          E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pelo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
           — Isso é que não — repetiu, furioso.
          Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
       — Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
         Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
          — Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...
         A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
        — Valha-me Deus! O padeiro está nu!
        E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
          — Tem um homem pelado aqui na porta!
         Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
         — É um tarado!
         — Olha, que horror!
         — Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
       Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
      — Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
       Não era: era o cobrador da televisão.
SABINO, Fernando. O homem nu. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1960. p. 65.

1 O título da crônica é O homem nu. Que outro título você poderia atribuir ao assunto do texto?

2 O texto foi escrito no início da década de 1960. Que fatos ou situações nos permite concluir que a história não se passa nos dias de hoje?

3 Por que o homem ficou nu?

4 Por que a mulher não abriu a porta do apartamento quando a campainha tocou?

5 No quarto parágrafo do texto, o homem afirma:
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.  A atitude dele está de acordo com sua afirmação? Por quê?

6 Por que a vizinha gritou que o padeiro estava nu?

7 No final da história, o homem teve de encarar o cobrador da televisão. Escreva uma possível desculpa que ele poderia dar para não pagar a prestação.

1 Numere as ações, mostrando a sequência dos acontecimentos.
(     ) A porta do apartamento se fecha, deixando o homem para fora.
(     )O marido pega o embrulho do pão.
(     )O marido põe a água para esquentar.
(     ) O marido entra no elevador e aperta o botão de emergência.
(     )A mulher vai para o banho.
(     )A mulher abre a porta.
(     )homem e a mulher decidem fi ngir que não estão em casa.
(     ) A mulher desliga o chuveiro.
(     )O elevador começa a subir.
(     ) O marido tira a roupa para tomar banho.
(     )O marido toca a campainha do apartamento.
(     ) O cobrador da televisão bate à porta.
(     ) O marido grita e esmurra a porta, alertando os vizinhos.

2 Em vários momentos, o autor criou suspense no texto. Localize dois trechos em que isso ocorre e cite os números dos parágrafos correspondentes.

A forma como o autor de um texto organiza a sequência de acontecimentos, de ações que constituem a narrativa chama-se enredo.
Essas ações podem ser narradas em ordem linear, de acordo com a sequência cronológica dos fatos, ou em ordem não-linear, caso os fatos sejam revelados ao leitor em outra sequência. Observe estes exemplos:
Pedro tomou banho e foi jantar. (ordem linear)
Pedro já tinha tomado banho quando foi jantar. (ordem não-linear)

3 Identifique no texto um trecho com fatos contados em ordem não-linear.

4 O trecho abaixo foi escrito em ordem linear ou não-linear? Explique.
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos.

GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. Cem anos de solidão. Rio de Janeiro: Record, 1967. p. 7.

5 Responda a estas perguntas sobre o texto O homem nu.
a) Qual era o desejo do homem nu ao se ver trancado fora de casa?

b) O que o impedia de realizar esse desejo?

6 Assinale a alternativa que expressa o principal conflito do protagonista, isto é, do personagem mais importante de O homem nu.
 (a) O marido quer tomar banho, mas a mulher já se trancou no banheiro.
 (b)O cobrador virá receber a prestação, mas o devedor está sem dinheiro.
 (c)O homem nu está do lado de fora do apartamento e não consegue entrar em casa.
 (d)O elevador começa a subir e o homem nu pensa que é o cobrador.

7 Qual é o momento de mais tensão, de mais nervosismo no texto?

8 De acordo com o texto e com o esquema abaixo, escreva com suas palavras os elementos do enredo de O homem nu. Observe o modelo com atenção.
CONFLITO INICIAL
TENTATIVA DE SOLUÇÃO DO CONFLITO INICIAL
CONFLITO 2
 CLÍMAX
SITUAÇÃO FINAL
a) Conflito inicial
O homem não tem dinheiro para pagar a prestação da tevê e não quer atender o cobrador
b) Tentativa de solução do conflito inicial

c) Conflito 2

d) Clímax

e) Situação final

9 Leia esta sinopse (resumo) de um filme e responda às perguntas.
Apollo 13 (EUA, 1995). Direção: Ron Howard. Com: Tom Hanks, Bill Paxton, Kevin Bacon, Ed Harris, Gary Sinise, Kathleen Quinlan. Três astronautas estão a caminho da Lua, mas uma explosão em um dos compartimentos da nave impede o sucesso da missão. Vagando no espaço, agora a preocupação é conseguir voltar à Terra com vida. 120 min.
GUIA de vídeo e DVD 2001. São Paulo: Nova —Cultural, 2001. (Texto adaptado)
a) Quais os três elementos principais do enredo do filme?

b) Qual desses elementos se configura como conflito? Por quê?

c) Qual seria uma possível cena de clímax para a história? Use a sua imaginação e escreva.

Atividades de linguagem

1 Retire do texto O homem nu três palavras ou expressões que marcam o tempo na narrativa.
2 Releia esta frase do texto e faça o que se pede.
Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e
para outro (...)
a) Assinale a alternativa que explica o sentido do trecho sublinhado. 
(a)Expressa uma consequência.
(b)Indica uma causa.
(c)Estabelece uma comparação.

Reescreva essa mesma frase, substituindo a palavra como por outra palavra ou expressão de sentido equivalente. Faça as alterações necessárias.

3 Releia os trechos a seguir e faça o que se pede.
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era.
Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho.
Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado.

a) Os dois trechos acima apresentam movimento. Que palavras ou expressões indicam isso?
b) Selecione do texto mais duas situações que apresentem movimento.

Produção de texto l
Leia a seguir um conto tradicional do Japão, datado do século VIII, de autoria desconhecida. Como outros contos do estilo, ele apresenta uma história aparentemente inocente, mas com um ensinamento de vida.
Espelho no cofre
       De volta de uma longa peregrinação, um homem carregava sua compra mais preciosa adquirida na cidade grande: um espelho, objeto até então desconhecido para ele. Julgando reconhecer ali o rosto do pai, encantado, ele levou o espelho para sua casa.
        Guardou-o num cofre no primeiro andar, sem dizer nada a sua mulher. E assim, de vez em quando, quando se sentia triste e solitário, abria o cofre para ficar contemplando “o rosto do pai”.
Sua mulher observou que ele tinha um aspecto diferente, um ar engraçado, toda vez que o via descer do quarto de cima. Começou a espreitá-lo e descobriu que o marido abria o cofre e fi cava longo tempo olhando para dentro dele.
          Depois que o marido saiu, um dia ela abriu o cofre, e nele, espantada, viu o rosto de uma mulher. Inflamada de ciúme, investiu contra o marido e deu-se então uma grave briga de família.
           O marido sustentava até o fi m que era o seu pai quem estava escondido no cofre.
          Por sorte, passava pela casa deles uma monja. Querendo esclarecer de vez a discussão, ela pediu que lhe mostrassem o cofre.
           Depois de alguns minutos no primeiro andar, a monja comentou ainda lá de cima:
         — Ora, vocês estão brigando em vão: no cofre não há homem nem mulher, mas tão-somente uma monja como eu!
ESPELHO no cofre. In: Os cem melhores contos de humor da literatura universal.Seleção e tradução de Flávio Moreira da Costa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 29-30.
Glossário
Peregrinação. Jorna da a lugares santos ou de devoção.
Contemplar. Observar com atenção, encantamento e admiração.
Espreitar. Observar às escondidas; espiar, espionar, vigiar.
Monja. Religiosa que vive em convento ou mosteiro.

O texto O espelho no cofre é um conto. Nele, a ação pode situar-se em qualquer época, mesmo no futuro. No entanto, o espaço onde se passa a história costuma ser limitado. Pode existir mais de um cenário, mas a ação principal geralmente transcorre num lugar só.
No conto, é o conflito que organiza a ação. É em torno dele, geralmente estabelecido nos primeiros parágrafos, que a ação será desenvolvida e concluída.

1 Identifique no conto alguns elementos do enredo. Para cada um, escreva uma frase com suas palavras.
a) O conflito
b) O clímax
c) A situação final

2 Onde está o humor do conto?
3 Em que espaço a história acontece? Como você poderia caracterizá-lo?